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Necessidade de agradar
Existem pessoas que se prontificam logo a ajudar, ou que se mostram imediatamente
disponíveis para fazer alguma coisa. Combinar e cancelar tudo, alterando os próprios
planos para fazer antes o que outra pessoa sugeriu, também é um comportamento
usual entre aqueles que sentem necessidade de agradar.
São pessoas que vivem em modo marioneta, como se estivessem sentadas num
banco de madeira, à espera que outra pessoa movimente os fios, ditando assim o que
é esperado fazer.
Os mariotenistas têm diferentes identidades, têm os seus próprios gostos e pretendem
contar diferentes histórias. E, portanto, a forma como vão movimentar os fios será
completamente diferente. Logo, o papel que a marioneta terá de desempenhar
moldar-se-á a quem está no comando.
Existem duas formas de isto acontecer. Numa delas, quer quem puxa os cordelinhos,
quer quem age de acordo com isso, está consciente do processo, e de alguma forma os
dois entendem-se e encontram um equilíbrio na sua forma de se relacionar.
A necessidade de comandar e a necessidade de agradar são duas faces da mesma
moeda. No fundo, um dos lados comanda de forma ativa, enquanto a necessidade de
agradar é uma forma passiva de comandar.
É o caso de quem agrada apenas para não ser rejeitado, ser posto de parte ou ser
deixado de fora. Este processo reflete os medos mais assustadores do Ser Humano: O
medo de ficar só, na solidão é um deles. O outro é o medo de ser reduzido à insignificância, de ser desprezado, de não significar nada para os outros.
Quem faz da necessidade de agradar um modo de vida, tenta evitar a todo o custo a invisibilidade
perante o outro, como se ao agradar, se tornasse presente, visível, importante,
valorizado.
Neste caso, é comum a pessoa que agrada deixar de fazer o que quer, para fazer o que
as outras pessoas querem. É esta uma tentativa de ser amado, se eu fizer o que as
outras pessoas querem, mais facilmente gostarão de mim e se as pessoas passam a
gostar mais de mim, então a sensação de pertença aumenta e, por outro lado, a
probabilidade de ser rejeitado diminui.
Mas atenção, esta é uma estratégia armadilhada e facilmente se cai na própria
armadilha que se construiu. A pessoa pode deixar de conhecer os seus próprios gostos,
pois passou a adotar os gostos das outras pessoas. A dificuldade em estabelecer
limites provoca a aceitação de tudo o que é pedido, e por conseguinte, surgem queixas
como a falta de tempo para fazer as próprias coisas.
À primeira vista, alguém que está sempre pronto a ajudar, é facilmente percecionado
como uma pessoa altruísta. Contudo, muito provavelmente essa pessoa passou por algum episódio que a fez acreditar que este seu modo de funcionamento lhe traria vantagens.
Por exemplo, rejeições passadas podem criar o medo de desaprovação. Na infância,
quando se cresce com pais exigentes/críticos pode-se desenvolver essa tendência. Eu
agrado-te para tu ficares agradado e eu sentir que tu ficas tranquilo. Esta é uma forma
de se relacionar com o outro que envolve perigos, essencialmente porque é um modo
de construir da relação com base em falsos pressupostos, dando assim origem a
relações que não são íntimas nem verdadeiras, e por isso mesmo, facilmente se
tornam instáveis e desequilibradas.
Quando eu te agrado, mesmo sem querer, eu anulo-me e passa a existir apenas um na
relação.
Será que a estratégia de agradar ao outro mantém o outro por perto?
Deixamos aqui um ponto para reflexão. Quem tem perto de si, quando está
constantemente a agradar ao outro?
A resposta é simples, tem um outro que não o conhece, que apenas conhece a relação
em que as necessidades são satisfeitas, porque existe alguém na relação que se anula.
Queremos com isto dizer que uma relação alicerçada à custa da anulação de um dos
elementos, é potenciadora de frustração, infelicidade e nos casos mais extremos de
raiva, agressividade e abuso físico e psicológico.
A necessidade de agradar aos outros é um pau de dois bicos.
De um lado da relação, temos alguém que necessita de ser agradado para se sentir
satisfeito e realizado, e desta forma inflar o seu Ego até ao ponto do domínio sobre os
outros. Do outro lado da relação existe provavelmente alguém inseguro, que necessita de se
esconder e viver através do outro, agradando-lhe, e desta forma preencher a sua
necessidade de se tranquilizar e acalmar as suas angústias.
Fica assim satisfeita a sua necessidade de agradar, mas desta forma são eliminados aspetos do seu Ego até ao
ponto de se anular.
A necessidade de agradar ao outro é sempre interior, não vem de fora. Vem de dentro,
é ditada pela insegurança, pelo medo e pela submissão. É uma forma de se relacionar
aprendida algures, provavelmente num local onde imperava a lei do mais forte,
daquele que não dá espaço ao outro para ter voz, para sentir e viver o Mundo à sua
maneira.
É uma necessidade de corresponder, de ser aceite e de dizer eu estou aqui, eu existo,
por favor olha para mim porque eu até faço o que te queres.
E é assim que se perpetuam os ciclos relacionais onde reina a instabilidade e a
infelicidade.
Nota: Artigo colaborativo com a Drª Cátia Soreira
https://catia-soreira-psicologa.webnode.pt/
Rolando Andrade
Psicólogo Clínico
Psicoterapeuta
Psicólogo do Desporto
Cédula profissional O.P.P 4365