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A ansiedade e as suas vicissitudes

Introdução

A ansiedade, por estranho que pareça, é um mecanismo adaptativo. Tem a função de nos proteger contra o sofrimento provocado pelas ameaças reais ou imaginadas com que somos confrontados diariamente.

Existe a este respeito alguma confusão terminológica; é comum usarem-se, como se significassem a mesma coisa, termos como «medo», «tensão», «stress», «angústia», «ansiedade», «activação» ou «excitação».

Talvez o erro terminológico mais comum seja o de usar como sinónimos as palavras «stress» e «ansiedade». No entanto, são coisas distintas. Por stress devemos entender a percepção subjectiva de que as exigências que nos são colocadas são superiores aos nossos recursos; perante as mesmas situações, as pessoas podem experienciar diferentes níveis de stress. Por «ansiedade» devemos entender as respostas aversivas (de natureza física, psicológica, ou emocional) aos factores de natureza stressante.

Desta forma a ansiedade pressupõe sempre a percepção de um certo grau de dano ou ameaça, que normalmente produz desconforto físico ou emocional. É como que um sinal de alerta, de que algo em nós, física, psicológica ou socialmente se encontra ameaçado. Tal como a dor sentida quando nos queimamos, a ansiedade coloca-nos perante o imperativo de reagirmos a determinadas situações.

Pelos efeitos que pode ter do ponto de vista físico e psicológico, a ansiedade tem sido um dos temas mais estudados no âmbito da saúde mental. Actualmente sabe-se (de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde) que todos os anos, cerca de 25% das pessoas sofre de Depressão ou Ansiedade e que as consequências destas patologias têm um custo, só na União Europeia, de 170 biliões de euros por ano.  Em alguns casos mais graves, a depressão e a ansiedade podem ser doenças incapacitantes.

Existem factores de natureza biológica e ambiental na predisposição de cada um para a ansiedade. Assim, a forma como nos afecta pode adquirida de forma hereditária, pode ser aprendida ou pode ser o resultado da conjugação destes dois factores; os estudos mostram, por exemplo, que os pais ansiosos têm maior probabilidade de ter filhos ansiosos, não só por questões de natureza genética, mas também por questões de natureza educativa.

O problema da ansiedade não é a ansiedade em si. A forma como cada um de nós mobiliza os recursos internos para confrontar as situações potencialmente ansiogénicas, determina a forma como estas nos afectam e é aí que reside o busílis da questão.

Cada um de nós tem um nível óptimo de ansiedade; se há pessoas que funcionam melhor com baixos níveis de ansiedade, existem outras pessoas que funcionam melhor com níveis de activação elevados. É por isso que sentir-se ansioso nem sempre é negativo. Existem por isso níveis de susceptibilidade diferentes para cada um (ansiedade-traço), que dizem respeito a uma tendência natural para experienciar elevações dos níveis de ansiedade em consequência dos stressores.

Rolando Andrade

Psicólogo

Cédula profissional O.P.P 4365