Os adolescentes e a Saúde Mental
Um documento publicado recentemente pela Organização Mundial de Saúde, alerta-nos para as consequências dos problemas de saúde mental entre os adolescentes. Em 2015, a auto-mutilação e o suicídio, foram a 3ª causa de morte a nível mundial entre esta população, estimando-se um total de 67000 mortes. Na Europa esta é 1 das principais causas de morte entre a população adolescente.
Nesta etapa da vida, as experiências são marcadas por rápidas mudanças físicas, fisiológicas, cognitivas, emocionais, sociais e sexuais. Quase sempre os adolescentes são confrontados com novas vivências, potencialmente geradoras de emoções, sentimentos e pensamentos poderosos. Em alguns casos, a forma como se percepcionam estas experiências tem um impacto tal que elas se tornam avassaladoras, angustiantes, paralisantes e em alguns casos, sentidas como sendo impossíveis de suportar.
Viver em ambientes familiares ou sociais problemáticos, sentir-se diferente, sem projectos, sem esperança, angustiado, isolado, marginalizado ou discriminado em função de determinadas características (como por exemplo a orientação sexual ou o aspecto físico), poderão ser factores desencadeadores de comportamentos de auto-mutilação ou suicídio. Nesta fase da vida a auto-mutilação ou os comportamentos de risco são um sinal de alarme importante, que podem revelar patologias do foro psicológico ou ideação de natureza suicida. Por vezes, os adultos que se suicidam, foram jovens que se auto-mutilaram.
Quando um jovem se isola, até do seu grupo de amigos, quando se envolve em comportamentos de risco (como por exemplo, agressões ou abuso de substâncias), quando tem mudanças drásticas de humor, altos níveis de ansiedade ou tristeza, quando manifesta perda de interesse pelas actividades que anteriormente lhe davam prazer, quando se sente humilhado ou desvalorizado; quando se sente como um fardo, quando verbaliza sentimentos de desesperança, angústia ou de baixa auto-estima, devemos estar alerta para a possível existência de ideação de natureza suicida.
Manter a calma, saber o que dizer e o que fazer perante alguém nesta situação funciona na maioria das vezes como um factor de contenção. Falar abertamente com os jovens é determinante na prevenção destes comportamentos. Reduzir os seus sentimentos de angústia ou desesperança, escutá-los (escutar = ouvir prestando atenção), validar os seus sentimentos, fazê-los sentir-se compreendidos implica que não se pode entrar em pânico, criticar, julgar, culpabilizar, mostrar revolta ou desilusão.
Partir do princípio tácito que este tipo de comportamentos são apenas chamadas de atenção pode ser perigoso. Este é um assunto que deve ser levado a sério. As pessoas que têm ideação suicida muitas vezes debatem-se com algum tipo de problema psicológico, sendo que as perturbações de natureza depressiva ou ansiosa são poderosos catalisadores deste tipo de comportamentos. Sempre que alguém se encontre nesta situação, deve ser encorajado a procurar ajuda profissional.
Rolando Andrade
Psicólogo
Cédula profissional O.P.P 4365